terça-feira, 15 de dezembro de 2009
A hora da estrela
Meus Oito Anos
Gonçalves Dias
Com a independência do Brasil, surgiu a necessidade de uma literatura autenticamente brasileira. Uma literatura que exaltasse as qualidades de um Brasil independente, uma literatura com identidade nacional. Nessa época surgiu o Romantismo Brasileiro com a obra “Suspiros poéticos e saudade” de Gonçalves de Magalhães. Logo em seguida veio Gonçalves Dias e acrescentou grande qualidade ao Romantismo Brasileiro e tornou-se o principal nome nesse período.
Vida e obra de Gonçalves Dias Antônio Gonçalves Dias (1823-1864), filho de um comerciante português e de uma cafuza. Nasceu no Maranhão onde fez os primeiros estudos, cursou direito em Coimbra, onde conheceu escritores românticos portugueses. Viveu em Portugal por oito anos que foram muito importantes para a sua formação intelectual. A grande paixão de sua vida foi Ana Amélia do Vale. A família de Ana Amélia do Vale não permitiu a união por ele ser mestiço. Acabou casando com Olímpia da Costa. Em 1854 por casualidade encontrou Ana Amélia em Lisboa, esse encontro teve como resultado o poema “Ainda uma vez adeus”. Gonçalves Dias teve muitos problemas de saúde: problemas cardíacos, hepatite e malária e gastrite. Em 1862 regressou à Europa em busca de tratamento. Na volta ao Brasil aconteceu um naufrágio do navio e Gonçalves Dias faleceu com 41 anos. A poesia Romântica Brasileira começou com Gonçalves de Magalhães, mas foi Gonçalves Dias o grande poeta do inicio do Romantismo, como afirma Alfredo Bosi:
Gonçalves Dias foi o primeiro poeta autentico a emergir em nosso Romantismo. Se manteve com a literatura do grupo de Magalhães mais de um contato (passadismo, pendor filosofante), a sua personalidade de artista soube transformar os temas comuns em obra poéticas duradouras que o situam muito acima de seus predecessores.(BOSI, Alfredo. In História concisa da Literatura Brasileira. 2006. pag. 104)
Obra: Poesia: Primeiros cantos (1846); segundos cantos(1848); Sextilhas do Rei Antão(1848); últimos cantos (1851); Os timbiras (1857).
Teatro: Betriz Cenci (1843); Leonor de Mendonça (1847).
Outros: Brasil e Oceania (1852); Dicionário da língua tupi (1858).
Gonçalves Dias buscava captar os sentimentos e a sensibilidade de nosso povo. Sua poesia foi criada numa linguagem simples e acessível, com métricas e ritmos variados, voltada para o índio(substituto da figura do herói medieval europeu), e a natureza brasileira. Como podemos observar nos seguintes poemas:
O canto do guerreiro (primeira estrofe)
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; Nosso céu tem mais estrelas, Em cismar, sozinho, à noite, Minha terra tem primores, Não permita Deus que eu morra, Gonçalves Dias também falava do amor não correspondido, como podemos observar no poema “Ainda uma vez-Adeus”: |
"Ainda uma vez-Adeus" Enfim te vejo! — enfim posso, Nem de amor, — de compaixão.
Considerações Finais O equilíbrio de linguagem de Gonçalves Dias e seus temas preferidos serviram de modelo à muitas gerações de poetas que vieram depois, tanto no Romantismo quanto em outros movimentos literários subseqüentes.
Referências MAGALHÃES,Tereza Cochar. CEREJA,Willian Roberto. Português linguagens volume 2, São Paulo 1994, Atual Editora. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira, 1936. 44 edição1994. São Paulo. Cultrix. FARACO, Carlos Emilio. MOURA. Francisco Marto. Língua e Literatura (1996) SP. |
Alvares de Azevedo
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada...
- Era um anjo entre nuvens d'alvorada,
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos, as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo
[Álvares de Azevedo]
Em 1835, morre seu irmão mais novo. Álvares de Azevedo fica com a saúde debilitada devido o choque emocional causado pela terrível perda.
De 1840 a 1844, Álvares de Azevedo estuda no Colégio Stoll. Aluno de Destaque impressiona o proprietário do colégio: professor Stoll, que envia uma carta a seu pai contendo os seguintes dizeres: “ Seu pequeno Manuel encanta-me sempre mais: é sem dúvida a criança de mais bela esperança do meu colégio, exceto em ginástica em que é o último”, e diz mais adiante: “ ...é a maior capacidade intelectual que encontrei na América em menino de sua idade”...
Em 1844, viaja para São Paulo em companhia de seu tio dr. José Inácio Silveira da Mota, professor da Faculdade de Direito, presta os exames mas não pode matricular-se devido sua idade. Regressa no ano seguinte ao Rio de Janeiro onde adquire o grau de Bacharel em Letras após ter sido aprovado plenamente em todas as matérias. Nesse colégio Álvares de Azevedo foi aluno de Gonçalves de Magalhães, precursor do Romantismo no Brasil com sua obra: “Suspiros poéticos e saudade”.
Em 1848, Álvares de Azevedo matricula-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Rapidamente se destaca, graças ao estudo de Direito Romano e análise do Código do Comercio no Brasil, foi escolhido como orador na sessão em que se comemorava o aniversário da criação dos cursos jurídicos no Brasil em 1849.
Em 1851, vai passar as férias de fim de ano com sua família no Rio de Janeiro, em dezembro vai passar o verão na fazenda de parentes. Nessa época em março de 1852, Álvares de Azevedo que já estava tuberculoso, cai de um cavalo, ficando no leito até a morte no dia 25 de abril de 1852.
Sobre a verdadeira causa de sua morte divergem os biógrafos entre tumor, apendicite, a queda em si, ou tuberculose. Em seu túmulo está o epitáfio: “Foi poeta, sonhou e amou na vida”.
Referencias
MAGALHÃES,Tereza Cochar. CEREJA,Willian Roberto. Português linguagens volume 2, São Paulo 1994, Atual Editora
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira, 1936. 44 edição1994. São Paulo. Cultrix.
FARACO, Carlos Emilio. MOURA. Francisco Marto. Língua e Literatura (1996) SP.AZEVEDO, Álvares de. Lira dos Vinte Anos. Martin Claret, 2007. São Paulo.
Castro Alves
A terceira fase do Romantismo brasileiro não se preocupa apenas com o “eu”, mas também com a sociedade. Os poetas desse período são chamados de poetas “condoreiros”, influenciados pelo escritor francês Victor Hugo eles defende a justiça social e a liberdade. Enquanto na Europa defendem a classe operária da exploração, no Brasil a luta é pelo fim da escravidão e pela república. Nesse período destaca-se Castro Alves.
Antonio Frederico de Castro Alves nasceu na Bahia em 1847, na antiga cidade “Curralinho”, hoje chamada de “Castro Alves”. Estudou direito em Recife e em São Paulo. Vivia com a triz portuguesa Eugênia Câmara.
Na faculdade de direito conviveu com outros poetas românticos importantes, além do intelectual baiano Rui Barbosa.
Destacava-se como poeta revolucionário e declamador muito eloqüente. Durante uma caçada feriu-se acidentalmente com uma arma de fogo, como conseqüência teve o pé amputado e agravada sua doença pulmonar. Acabou voltando para salvador, e lá faleceu em 1871. Ele estava no auge de sua popularidade como poeta e declamador.
Sua obra representa um momento de maturidade e transição na poesia Romântica brasileira. Ele demonstrava maturidade e contraposição às atitudes ingênuas de seus predecessores carregadas de idealização e nacionalismo orgulhoso, em vez disso, Castro Alves retrata o lado feio e esquecido pelos primeiros Românticos; a escravidão dos negros, a opressão e a ignorância do povo brasileiro. Representava transição por que suas atitudes mais realistas apontavam para o movimento literário subseqüente, o Realismo que já existia na Europa.
Castro Alves possuía uma sensibilidade em relação aos problemas críticos que o Brasil atravessava por volta de 1850. A Poesia de Castro Alves exercia uma função social, estilo que encontrou sua realização na metade do século XIX.
No entanto, como bom romântico, Castro Alves fez também poesias de caráter lírio-amoroso. Entretanto a mulher na obra de Castro Alves aparece como um ser concreto, mais real do que na obra dos outros poetas de sua época.
Texto retirado de “O navio negreiro”
"Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
..........................................................
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas. "
As duas flores
"São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!"
Referências Bibliográficas
Alves, Castro. Espumas flutuantes. Martin Claret. São Paulo. 2004.
Site: http://www.culturabrasil.pro.br/navionegreiro.htm (05/10/2009, 19:30)
MAGALHÃES,Tereza Cochar. CEREJA,Willian Roberto. Português linguagens volume 2, São Paulo 1994, Atual Editora.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira, 1936. 44 edição1994. São Paulo. Cultrix.
FARACO, Carlos Emilio. MOURA. Francisco Marto. Língua e Literatura (1996) SP.