terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A hora da estrela


.







O romance “A hora da estrela” de Clarice Lispector conta a estória de uma moça nordestina chamada Macabéa. O nome Macabéa tem um significado oposto à personagem do Romance, ele vem de uma história que se encontra na Bíblia, Judas Macabeu foi o líder judeu que se revoltou contra o domínio Grego-Macedônico e libertou o país da humilhante invasão estrangeira

Este texto é uma interpretação bem particular, mas acredito que tenha relação com a mensagem da obra..

Macabéa, assim chamada de forma irônica, é uma moça nordestina que desde a infância foi privada daquilo que lhe proporcionava alegria. Sua tia batia constantemente em sua cabeça com “cascudos” e privava a pequena Macabéa da única paixão da sua vida que era doce de goiaba com queijo. Desde muito cedo foi ensinada dessa forma cruel, que não podia ter o que desejava.
Quando cresce, Macabéa vai morar no Rio de Janeiro e começa a trabalhar como datilógrafa. Gosta muito de coca-cola e da atriz Marilyn Monroe, ouvir rádio relógio, e recortar figuras de revistas.
Conhece um rapaz chamado Olímpico, passam a namorar, mas Olímpico a maltrata com suas palavras cruéis, entretanto Macabéa não esboça reação.
O namoro de Macabéa não dura muito, Olímpico revoltado com a passividade de Macabéa a troca por sua colega de trabalho Glória.
Macabéa seguindo o conselho de Glória consulta uma cartomante. A cartomante lhe faz muitas promessas, promessas de um futuro bom. Toda feliz, Macabea sai da casa da cartomante “uma pessoa grávida de futuro” (pag.79). Pela primeira vez enxergando seus problemas e pensando em melhorar de vida. Mas um Mercedes atropelou a pobre Macabéa que caiu e agonizando morreu.

Macabéa é um exemplo de alienação, tudo nela é exagerado. Mas muitas pessoas tornam-se também “Macabéas”. Uma pessoa totalmente alienada e conformada. A Macabéa aprendeu com a tia que não deveria desejar, ou que se desejasse não poderia ter. Fechada no seu mundinho, sem se abrir para novas possibilidades, da mesma forma as pessoas (não sei se a maioria), vivem alienadas.
Assim como a Macabéa adorava coca-cola e a falecida atriz Marilyn Monroe,o povo de nosso país admira em demasia tudo o que vem dos estados unidos, e esquece de suas principais necessidades, esquece que a vida pode ser muito mais do que comer o lixo que é jogado dos EUA.
Assim como Macabéa, muitas pessoas vivem alienadas sem se abrir para a vida, sem ampliarem sua visão de mundo. Correm atrás de ilusões e quando acordam já está tarde. As atividades de lazer de Macabéa parecem engraçadas pela sua futilidade, mas e as nossas? Será que não vivemos também numa rotina que nos escraviza? Será que não temos também um pouco de Macabéa em nossas atitudes e escolhas? O principal problema de Macabéa era achar que a vida era apenas o que ela enxergava!





LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela.. Rio de Janeiro. Rocco. 1998

Meus Oito Anos


Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar - é lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais! -
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

[Casimiro de abreu]

Gonçalves Dias




Com a independência do Brasil, surgiu a necessidade de uma literatura autenticamente brasileira. Uma literatura que exaltasse as qualidades de um Brasil independente, uma literatura com identidade nacional.

Nessa época surgiu o Romantismo Brasileiro com a obra “Suspiros poéticos e saudade” de Gonçalves de Magalhães. Logo em seguida veio Gonçalves Dias e acrescentou grande qualidade ao Romantismo Brasileiro e tornou-se o principal nome nesse período.


Vida e obra de Gonçalves Dias

Antônio Gonçalves Dias (1823-1864), filho de um comerciante português e de uma cafuza. Nasceu no Maranhão onde fez os primeiros estudos, cursou direito em Coimbra, onde conheceu escritores românticos portugueses. Viveu em Portugal por oito anos que foram muito importantes para a sua formação intelectual.

A grande paixão de sua vida foi Ana Amélia do Vale. A família de Ana Amélia do Vale não permitiu a união por ele ser mestiço. Acabou casando com Olímpia da Costa. Em 1854 por casualidade encontrou Ana Amélia em Lisboa, esse encontro teve como resultado o poema “Ainda uma vez adeus”.

Gonçalves Dias teve muitos problemas de saúde: problemas cardíacos, hepatite e malária e gastrite. Em 1862 regressou à Europa em busca de tratamento. Na volta ao Brasil aconteceu um naufrágio do navio e Gonçalves Dias faleceu com 41 anos.

A poesia Romântica Brasileira começou com Gonçalves de Magalhães, mas foi Gonçalves Dias o grande poeta do inicio do Romantismo, como afirma Alfredo Bosi:


Gonçalves Dias foi o primeiro poeta autentico a emergir em nosso Romantismo. Se manteve com a literatura do grupo de Magalhães mais de um contato (passadismo, pendor filosofante), a sua personalidade de artista soube transformar os temas comuns em obra poéticas duradouras que o situam muito acima de seus predecessores.(BOSI, Alfredo. In História concisa da Literatura Brasileira. 2006. pag. 104)


Obra:

Poesia: Primeiros cantos (1846); segundos cantos(1848); Sextilhas do Rei Antão(1848); últimos cantos (1851); Os timbiras (1857).

Teatro: Betriz Cenci (1843); Leonor de Mendonça (1847).

Outros: Brasil e Oceania (1852); Dicionário da língua tupi (1858).



Gonçalves Dias buscava captar os sentimentos e a sensibilidade de nosso povo. Sua poesia foi criada numa linguagem simples e acessível, com métricas e ritmos variados, voltada para o índio(substituto da figura do herói medieval europeu), e a natureza brasileira. Como podemos observar nos seguintes poemas:


O canto do guerreiro

(primeira estrofe)

Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar.



Canção do exílio


Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.




Gonçalves Dias também falava do amor não correspondido, como podemos observar no poema “Ainda uma vez-Adeus”:


"Ainda uma vez-Adeus"

Enfim te vejo! — enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!

Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!


Louco, aflito, a saciar-me
D'agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esp'rança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!


Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar correr a teus pés.


Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!


Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me amor, e a vida
Que me darias — bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Mal sabes quanto lutei!


Oh! se lutei! . . . mas devera
Expor-te em pública praça,
Como um alvo à populaça,
Um alvo aos dictérios seus!
Devera, podia acaso
Tal sacrifício aceitar-te
Para no cabo pagar-te,
Meus dias unindo aos teus?


Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t'esquecerias,
Que, sem mim, alegres dias
T'esperavam; e
em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu, quinhão de dor!


Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!


Tudo, tudo; e na miséria
Dum martírio prolongado,
Lento, cruel, disfarçado,
Que eu nem a ti confiei;
"Ela é feliz (me dizia)
"Seu descanso é obra minha."
Negou-me a sorte mesquinha. . .
Perdoa, que me enganei!


Tantos encantos me tinham,
Tanta ilusão me afagava
De noite, quando acordava,
De dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde pára?
Onde a ilusão dos meus sonhos?
Tantos projetos risonhos,
Tudo esse engano desfez!


Enganei-me!... — Horrendo caos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra.
Não pode voltar atrás!
Amarga irrisão! reflete:
Quando eu gozar-te pudera,
Mártir quis ser, cuidei qu'era...
E um louco fui, nada mais!


Louco, julguei adornar-me
Com palmas d'alta virtude!
Que tinha eu bronco e rude
Co que se chama ideal?
O meu eras tu, não outro;
Stava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida,
Pura, na ausência do mal.


Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu, outro fora,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a pusera...
E eu! eu fui que a não quis!


És doutro agora, e pr'a sempre!
Eu a mísero desterro
Volto, chorando o meu erro,
Quase descrendo dos céus!
Dói-te de mim, pois me encontras
Em tanta miséria posto,
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deus!


Dói-te de mim, que t'imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!... de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
Da dor que me rala o peito,
E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!

Adeus qu'eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!

Lerás porém algum dia
Meus versos d'alma arrancados,
D'amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; — e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade
Que chores, não de saudade,

Nem de amor, — de compaixão.

Considerações Finais

O equilíbrio de linguagem de Gonçalves Dias e seus temas preferidos serviram de modelo à muitas gerações de poetas que vieram depois, tanto no Romantismo quanto em outros movimentos literários subseqüentes.



Referências

MAGALHÃES,Tereza Cochar. CEREJA,Willian Roberto. Português linguagens volume 2, São Paulo 1994, Atual Editora.

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira, 1936. 44 edição1994. São Paulo. Cultrix.

FARACO, Carlos Emilio. MOURA. Francisco Marto. Língua e Literatura (1996) SP.

Alvares de Azevedo



Pálida, à luz da lâmpada sombri

Sobre o leito de flores reclinada,

Como a lua por noite embalsamada,

Entre as nuvens do amor ela dormia!


Era a virgem do mar! Na escuma fria

Pela maré das águas embalada...

- Era um anjo entre nuvens d'alvorada,

Que em sonhos se banhava e se esquecia!


Era mais bela! o seio palpitando...

Negros olhos, as pálpebras abrindo...

Formas nuas no leito resvalando...


Não te rias de mim, meu anjo lindo!

Por ti - as noites eu velei chorando,

Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo


[Álvares de Azevedo]







Manuel Antônio Álvares de Azevedo, segundo filho de Inácio Alvarez de Azevedo e Maria Luísa Carlota Silveira da Mota, nasceu na capital de São Paulo na rua de São Francisco próxima à Faculdade de Direito, a 12 de setembro de 1831. Antes de Manuel Antônio o casal teve uma filha Maria Luísa, que se tornaria a irmã predileta de Álvares de Azevedo. Com 2 anos de idade Álvares de Azevedo juntamente com sua família muda-se para o Rio de Janeiro.

Em 1835, morre seu irmão mais novo. Álvares de Azevedo fica com a saúde debilitada devido o choque emocional causado pela terrível perda.

De 1840 a 1844, Álvares de Azevedo estuda no Colégio Stoll. Aluno de Destaque impressiona o proprietário do colégio: professor Stoll, que envia uma carta a seu pai contendo os seguintes dizeres: “ Seu pequeno Manuel encanta-me sempre mais: é sem dúvida a criança de mais bela esperança do meu colégio, exceto em ginástica em que é o último”, e diz mais adiante: “ ...é a maior capacidade intelectual que encontrei na América em menino de sua idade”...

Em 1844, viaja para São Paulo em companhia de seu tio dr. José Inácio Silveira da Mota, professor da Faculdade de Direito, presta os exames mas não pode matricular-se devido sua idade. Regressa no ano seguinte ao Rio de Janeiro onde adquire o grau de Bacharel em Letras após ter sido aprovado plenamente em todas as matérias. Nesse colégio Álvares de Azevedo foi aluno de Gonçalves de Magalhães, precursor do Romantismo no Brasil com sua obra: “Suspiros poéticos e saudade”.

Em 1848, Álvares de Azevedo matricula-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Rapidamente se destaca, graças ao estudo de Direito Romano e análise do Código do Comercio no Brasil, foi escolhido como orador na sessão em que se comemorava o aniversário da criação dos cursos jurídicos no Brasil em 1849.

Em 1851, vai passar as férias de fim de ano com sua família no Rio de Janeiro, em dezembro vai passar o verão na fazenda de parentes. Nessa época em março de 1852, Álvares de Azevedo que já estava tuberculoso, cai de um cavalo, ficando no leito até a morte no dia 25 de abril de 1852.

Sobre a verdadeira causa de sua morte divergem os biógrafos entre tumor, apendicite, a queda em si, ou tuberculose. Em seu túmulo está o epitáfio: “Foi poeta, sonhou e amou na vida”.




Referencias

MAGALHÃES,Tereza Cochar. CEREJA,Willian Roberto. Português linguagens volume 2, São Paulo 1994, Atual Editora

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira, 1936. 44 edição1994. São Paulo. Cultrix.

FARACO, Carlos Emilio. MOURA. Francisco Marto. Língua e Literatura (1996) SP.AZEVEDO, Álvares de. Lira dos Vinte Anos. Martin Claret, 2007. São Paulo.







Castro Alves




A terceira fase do Romantismo brasileiro não se preocupa apenas com o “eu”, mas também com a sociedade. Os poetas desse período são chamados de poetas “condoreiros”, influenciados pelo escritor francês Victor Hugo eles defende a justiça social e a liberdade. Enquanto na Europa defendem a classe operária da exploração, no Brasil a luta é pelo fim da escravidão e pela república. Nesse período destaca-se Castro Alves.

Antonio Frederico de Castro Alves nasceu na Bahia em 1847, na antiga cidade “Curralinho”, hoje chamada de “Castro Alves”. Estudou direito em Recife e em São Paulo. Vivia com a triz portuguesa Eugênia Câmara.

Na faculdade de direito conviveu com outros poetas românticos importantes, além do intelectual baiano Rui Barbosa.

Destacava-se como poeta revolucionário e declamador muito eloqüente. Durante uma caçada feriu-se acidentalmente com uma arma de fogo, como conseqüência teve o pé amputado e agravada sua doença pulmonar. Acabou voltando para salvador, e lá faleceu em 1871. Ele estava no auge de sua popularidade como poeta e declamador.

Sua obra representa um momento de maturidade e transição na poesia Romântica brasileira. Ele demonstrava maturidade e contraposição às atitudes ingênuas de seus predecessores carregadas de idealização e nacionalismo orgulhoso, em vez disso, Castro Alves retrata o lado feio e esquecido pelos primeiros Românticos; a escravidão dos negros, a opressão e a ignorância do povo brasileiro. Representava transição por que suas atitudes mais realistas apontavam para o movimento literário subseqüente, o Realismo que já existia na Europa.

Castro Alves possuía uma sensibilidade em relação aos problemas críticos que o Brasil atravessava por volta de 1850. A Poesia de Castro Alves exercia uma função social, estilo que encontrou sua realização na metade do século XIX.

No entanto, como bom romântico, Castro Alves fez também poesias de caráter lírio-amoroso. Entretanto a mulher na obra de Castro Alves aparece como um ser concreto, mais real do que na obra dos outros poetas de sua época.

Texto retirado de “O navio negreiro”


"Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.

'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...

Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!

Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...


..........................................................


Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
"



As duas flores

"São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!"


Referências Bibliográficas

Alves, Castro. Espumas flutuantes. Martin Claret. São Paulo. 2004.

Site: http://www.culturabrasil.pro.br/navionegreiro.htm (05/10/2009, 19:30)

MAGALHÃES,Tereza Cochar. CEREJA,Willian Roberto. Português linguagens volume 2, São Paulo 1994, Atual Editora.

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira, 1936. 44 edição1994. São Paulo. Cultrix.

FARACO, Carlos Emilio. MOURA. Francisco Marto. Língua e Literatura (1996) SP.